Dissertação - Fernando Cesar Perina

Avaliação da toxicidade de biocidas utilizados em tintas anti-incrustantes

Autor: Fernando Cesar Perina (Currículo Lattes)

Resumo

As tintas á base de compostos orgânicos de estanho (COEs), como TBT (Tributilestanho) e TPT (Trifenilestanho), são altamente efetivas contra a bioincrustração. No entanto, devido aos efeitos danosos ao ambiente, em janeiro de 2008 estes compostos foram banidos das tintas anti-incrustantes. Deste modo, diferentes compostos orgânicos, como os herbicidas Irgarol 1051 e Diuron, estão sendo utilizados como biocidas principais das tintas ou como aditivos para potencializar os efeitos de outras substâncias presentes nas formulações. Apesar disso, não há registro de estudos utilizando espécies nativas da costa brasileira na avaliação da toxicidade de compostos anti-incrustantes. Portanto, o presente trabalho teve como objetivo investigar isoladamente a toxicidade dos principais biocidas utilizados como anti-incrustantes, tanto dos recentemente banidos TBT e TPT, quanto dos substitutos Irgarol 1051 e Diuron. Através de ensaios com diferentes espécies animais foram analisadas: (1) Toxicidade aguda em matriz aquosa (água do mar filtrada), utilizando os organismos costeiros Kalliapseudes shubartii, Acartia tonsa e Mysidopsis juniae; (2) Toxicidade crônica, através de ensaios de toxicidade com embriões do ouriço-do-mar Lytechinus variegatus e identificação de efeitos sobre os estágios embrio-larvais; e (3) Toxicidade aguda em sedimentos (fase sólida), utilizando o anfípodo escavador Tiburonella viscana. Os resultados dos ensaios em matrizes aquosas mostraram o mesmo padrão de toxicidade para todas as espécies estudadas sendo TBT > TPT > Irgarol 1051 > Diuron. Além disso, os organismos genuinamente de coluna d'água se mostraram altamente sensíveis ao TBT e TPT, com respectivos valores médios das CL50 - 48 h de 1,5 e 2,8 ug L-1 para A. tonsa , e CL50 - 96 h de 2,8 e 4,2 ugL-1 para M. juniae, que equivalem aos níveis já reportados para amostras ambientais de água. Já para o tanaidáceo bentônico K. shubartii as CL50 - 96 h foram de 23,5 ug L-1 para TBT e de 34,0 ugL-1 para TPT. Diferente dos observados nos ensaios com matrizes aquosas, em sedimentos o TPT foi mais tóxico para T. viscana que o TBT, com CL50 - 10 d de 1,2 e 1,7 ug g-1, respectivamente. Níveis de TBT nesta faixa de concentração já foram registrados em sedimentos da costa brasileira, o que sugere comprometimento ecológico dessas áreas.Já ensaios (agudos e crônicos) com Irgarol e Diuron indicaram que os níveis ambientais reportados, tanto em coluna d'água quanto em sedimentos, são inferiores aos que causaram toxicidade às espécies estudadas. Considerando a legislação ambiental brasileira, os ensaios crônicos mostraram que a concentração máxima de TBT apresentada pela resolução CONAMA 357/2005 é suficiente para inviabilizar o desenvolvimento embrionário de L. variegatus.Deste modo, destaca-se a importância de avaliar a toxicidade dos contaminantes sobre espécies nativas, como subsídios para a inclusão de limites seguros nas legislações ambientais. Em linhas gerais, as espécies utilizadas mostraram-se adequadas para avaliar a toxicidade dos compostos anti-incrustantes na costa brasileira.

TEXTO COMPLETO

Palavras-chave: Oceanografia físicaGeologia marinhaBiocidas anti-incrustantesTintas anti-incrustantesToxicidade