Dinâmica vegetacional, influência continental sobre a produtividade oceânica e as mudanças climáticas no sul do Brasil no Quaternário tardio
Silvia Regina Bottezini (Currículo Lattes)
Resumo: A partir da análise de palinomorfos continentais e marinhos e da comparação destes com proxies de paleoprodutividade recuperados do testemunho SIS 188, coletado no talude da Bacia de Pelotas, o presente estudo teve como objetivos entender a dinâmica da vegetação continental e compreender o papel da influência continental sobre a produtividade oceânica ao longo do Quaternário Tardio. O registro documenta o intervalo de tempo entre 47,8 e 7,4 cal ka BP e inclui os Estágios Isotópicos Marinhos (EIM) 3, 2 e 1 (parcialmente). A assembleia polínica indica que os campos dominaram a paisagem no Sul do Brasil ao longo do intervalo estudado, refletindo a flora típica do Planalto Leste do Estado do RS, localizado na mesma latitude do testemunho. Desta forma, a poeira carregada pelos ventos e as descargas dos rios Mampituba e Araranguá, seriam as principais fontes dos palinomorfos, ao invés da Corrente Costeira Brasileira (CCB). Entre 47,8 e 33,3 cal ka BP, ambientes úmidos, como pântanos, se expandiram e as florestas foram reduzidas. Durante o Último Máximo Glacial (UMG), houve uma expansão dos campos e a redução dos indicadores florestais, refletindo um clima mais frio e seco. De 19,5 a 7,4 cal ka AP, as mudanças ambientais do início do Holoceno e do degelo propiciaram o desenvolvimento das florestas, refletindo um clima mais quente e úmido. O pico na porcentagem do grupo “Árvores” em 15,9 cal ka BP é atribuído ao Evento Heinrich 1. As análises dos proxies de paleoprodutividade indicaram que durante os intervalos glaciais (EIMs 3 e 2), a produtividade esteve atrelada à intensificação dos processos de ressurgência e ao transporte de poeira. Ao final do EIM 2, houve uma queda nas concentrações polínicas, que foi intensificada no EIM 1, atribuída à subida do nível do mar e ao enfraquecimento dos ventos de sudoeste. Neste intervalo a produtividade foi alta, embora as concentrações de palinomorfos de origem continental tenham diminuído muito. Ademais, a correlação entre a Razão N e a concentração polínica só é significativa quando se excluem as amostras deste EIM, indicando que o aumento do nível do mar interfere na fertilização pelo aporte continental das águas marinhas distantes da costa.
Palavras-chave: Palinomorfos; Vegetação; Paleoprodutividade; Bacia de Pelotas.