Dissertação - Yago Brito Marinho

Padrões climatológicos associados a eventos de ressaca no litoral sul do Brasil

Autor: Yago Brito Marinho (Currículo Lattes)

Resumo

Os fenômenos atmosféricos, como frentes frias e ciclones extratropicais, afetam as oscilações do nível do mar, marés meteorológicas e eventos extremos. As ressacas, afetam cidades portuárias, causando danos econômicos e sociais. O estudo concentra-se na zona Alfa do litoral sul do Brasil, visto que essa região é mais propensa a ocorrência a ciclones extratropicais ao longo do ano, principalmente no inverno, contribuindo para chuvas frequentes e eventos de mar agitado. A partir da previsão de avisos de Mau Tempo da Marinha do Brasil e da reanálise ERA5, o estudo aborda a frequência e padrões sazonais das ressacas na área de estudo entre 2001 e 2020, além de relacionar esses eventos com fenômenos climáticos como El Niño e La Niña e a baroclinicidade atmosférica durante as fases do fenômeno El Niño-Oscilação Sul (ENOS). Além disso, este trabalho utiliza Funções Ortogonais Empíricas (EOF) para analisar os padrões de variabilidade das ondas e pressão ao nível médio do mar durante eventos de ressaca, buscando compreender suas características e influências climáticas na região. A distribuição anual e mensal de eventos de ressaca na área Alfa, entre 2001 e 2020, revela variações significativas ano a ano, com destaque para os anos de 2015 e 2016, com 71 casos devido ao El Niño de escala "Muito Forte". Observou-se 433 eventos no período, concentrados principalmente entre abril e setembro, sendo o outono o período com mais ocorrências, seguido pelo inverno, épocas em que ciclones extratropicais e sistemas frontais são mais frequentes na região. A análise, considerando os eventos ENOS, apontou uma maior incidência de ressacas durante o período neutro, seguido pelo El Niño, especialmente nos meses de inverno. Esses resultados corroboram estudos anteriores, reforçando a concentração de ressacas no outono e inverno na região sul do Brasil, especialmente durante períodos neutros e de El Niño. No decorrer do ano, a dinâmica das ressacas varia de acordo com as estações. Durante o verão, registra-se um aumento notável da pressão sobre a Argentina e áreas adjacentes, com pressão mais baixa ao sul do Brasil. Ventos predominantes do sudeste na zona Alfa impulsionam ondas com direção predominante para o sudeste e altura elevada, variando de 2 a 2,5 metros. No outono, a pressão aumenta sobre a Argentina, com ventos principalmente do Sul na zona Alfa. Ondas com altura média de 2,5 a 3 metros e direção sul causam acúmulo de água na costa. Durante o inverno, há um aumento médio da pressão (1018 a 1020 hPa) na zona Alfa, ventos do quadrante sul e ondas próximas a 3,5 metros. A influência de ciclones em alto mar afeta a agitação marítima. Por fim, na primavera (SON), a pressão mantém-se semelhante ao verão, com ventos predominantes do sudeste e ondas direcionadas à zona Alfa, variando em altura entre 2,5 a 3 metros. Os eventos de ressaca na zona Alfa variam com os estágios do ENOS. Durante fases neutras, há ondas de 2/2,5 metros próximas à costa e até 3,5 metros mais afastadas, com ventos do quadrante sul e pressão média de cerca de 1019 hPa. No El Niño, ventos de sudeste e ondas de 2,5 a 3 metros são gerados por centros de pressão específicos. Já na La Niña, a pressão é similar à neutra, com ondas variando de 2,5 a 3 metros devido a ventos do quadrante sul. El Niño e fases neutras têm mais instabilidade e ressacas, enquanto La Niña apresenta menor potencial para esses eventos, confirmado pela análise da Instabilidade Baroclínica (IB). Apesar de menos frequentes no Verão, as ressacas têm impacto significativo, como visto em 2002, causando danos à infraestrutura costeira e prejuízos financeiros. As ressacas relacionadas a ciclogêneses intensas no Outono e Inverno são mais comuns, influenciadas pela conversão baroclínica e pela intensificação dos ciclones nessa época. A sazonalidade das ressacas está associada ao padrão atmosférico, com influência das frentes e da Alta Pressão do Atlântico Sul na região. A variabilidade do ENOS molda a frequência e a intensidade das ressacas. Durante o El Niño, há um aumento das chuvas, tempestades e ventos na zona Alfa, enquanto na La Niña ocorrem eventos menos frequentes. Esses padrões sazonais e influências climáticas são fundamentais para compreender e prever as ressacas na região. Análise de padrões atmosféricos destacou baixas pressões afastadas da costa como catalisadoras das ressacas. A instabilidade durante El Niño e fase neutra indicou maior potencial para ciclones extratropicais, gerando mais ressacas nesses períodos, enquanto La Niña demonstrou menor incidência. A perspectiva de mudanças climáticas o aumentando e a frequência desses eventos requer mais estudos para entender melhor os impactos e buscar soluções mitigadoras, especialmente em um contexto de vulnerabilidade das áreas costeiras.

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