Dissertação - Luana Dutra Magalhães

Reconstituição paleoecológica de uma paleolaguna holocênica na costa do extremo-sul do Rio Grande do Sul

Autor: Luana Dutra Magalhães (Currículo Lattes)

Resumo

O estudo de microfósseis preservados no registro sedimentar constitui uma das principais abordagens na reconstituição de paleoambientes costeiros do Período Quaternário. Neste estudo, apresentamos novos dados sobre a evolução paleoambiental do extremo sul da Planície Costeira do Rio Grande do Sul (PCRS), com o objetivo de compreender como a paleovegetação regional e local respondeu às alterações climáticas e ambientais que ocorreram na região durante o Holoceno. Para isso, analisamos palinomorfos e diatomáceas provenientes de amostras coletadas em um perfil de turfa de 44 cm de espessura, localizado na praia de Hermenegildo (Santa Vitória do Palmar, RS). O topo e a base do perfil de turfa foram datados por radiocarbono, permitindo a construção de um modelo idade-profundidade. As amostras foram submetidas a tratamentos químicos específicos para a recuperação dos microfósseis e, posteriormente, foram analisados em microscópio óptico. Os resultados indicam a existência de uma paleolaguna entre 4321-3903 anos cal AP (Holoceno Tardio), com três fases distintas: de 4321 a 4206 anos cal AP, o clima quente e úmido, com alta pluviosidade favoreceu o desenvolvimento da vegetação florestal e de um pântano herbáceo local. A paleolaguna foi caracterizada por águas salobras a doces. De 4206 a 4018 anos cal AP, a vegetação regional e local sofreu um declínio, indicando condições climáticas mais secas. Houve alterações na salinidade da paleolaguna, evidenciadas pela presença de diatomáceas marinhas-salobras. De 4018 a 3903 anos cal AP, a vegetação regional, composta por táxons florestais e campestres, expandiu-se novamente. No entanto, os indicadores do pântano herbáceo local diminuíram sua expressão. A paleolaguna retornou às condições de água doce-salobra. Após 3903 anos cal AP, a paleolaguna e sua vegetação local associada foram soterradas por depósitos eólicos, interrompendo o processo de sucessão vegetal. O estudo destaca a relevância do uso integrado de microfósseis palinológicos e de diatomáceas na compreensão da dinâmica dos paleoambientes costeiros e dos impactos das variações climáticas ao longo do Holoceno, especialmente dos eventos El Niño.

TEXTO COMPLETO

Palavras-chave: PalinologiaPaleoambientesPaleoclimatologiaRio Grande do SulPraia do HermenegildoSanta Vitória do Palmar (RS)Planície costeiraDiatomáceasPaleoclimasPaleovegetaçãoSucessão vegetal