Variabilidade sinodical e sazonal da distribuição das propriedades físicas da água na Baía de São José, Brasil.
Autor: Luis Carlos Oliveira do Lago (Currículo Lattes)
Resumo
Entender os processos hidrodinâmicos que controlam a estratificação em estuários tropicais macromaré é fundamental para interpretar a circulação, o transporte de massa e a eficiência funcional desses sistemas. A Baía de São José é um dos maiores ambientes estuarinos do Brasil. O presente trabalho apresenta uma análise do regime de maré, do regime fluvial e da distribuição das propriedades físicas da água (salinidade, temperatura e densidade) ao longo da baía. Dados observados de nível da água foram analisados por análise harmônica, e a variação anual da amplitude da maré foi extraída por meio da transformada de Hilbert. Dados históricos de vazão dos rios Itapecuru e Munim, que constituem os principais tributários da baía, foram analisados para fornecer o regime climatológico da descarga fluvial. Dados de salinidade e temperatura da água foram obtidos a partir de quatro campanhas oceanográficas realizadas em 2003, ao longo da baía, abrangendo o período seco e chuvoso, em condições de sizígia e quadratura. A partir desses dados, foi analisado o grau de estratificação do sistema. O regime de maré é do tipo semidiurno puro, dominado pela constituinte M2, com alturas variando de 2,5 m (quadratura) a 6 m (sizígia). O aporte fluvial médio é de aproximadamente 1000 m³/s no período chuvoso e 100 m³/s no período seco, representando respectivamente 1% e 0,1% do volume do prisma de maré. Os resultados revelam que, apesar da baixa razão de fluxo, a interação entre o forçamento de maré e o gradiente de densidade promove estratificação salina significativa durante o período chuvoso, especialmente em maré de quadratura. Essa resposta hidrodinâmica posiciona a Baía de São José como um estuário do tipo strain-induced periodic stratification (SIPS), um regime funcional raramente documentado em estuários tropicais macromaré. Essa caracterização contribui para o entendimento dos mecanismos de estratificação em sistemas com alta amplitude de maré e moderado aporte fluvial, sendo relevante para modelos preditivos e gestão costeira.