Dissertação - Cristiane da Rosa Rosa

Bioerosões em conchas do Gastrópode Pachycymbiola brasiliana (Lamarck, 1811) da Planície Costeira do Rio Grande do Sul (Quaternário) e suas implicações paleoecológicas

Autor: Cristiane da Rosa Rosa (Currículo Lattes)

Resumo

A Icnologia se ocupa de estudar interações entre organismos e substratos, podendo dividir-se em Paleoicnologia quando trata de traços fósseis, e Neoicnologia ao tratar de traços atuais. Dentre os diversos tipos de traços, estão as bioerosões, um processo biológico capaz de deixar evidências que incluem perfurações, roeduras, raspagens, traços de mordida, habitação entre outros. As bioerosões podem ser causadas por diversos organismos e seu estudo permite realizar inferências paleoecológicas, como identificar interações de organismos no âmbito paleoparasitológico e predatório. O comportamento parasitário é identificável através da presença de crescimentos anômalos internos em conchas resultantes de bioerosões no exterior, o que indica que o animal estava vivo no momento da bioerosão. A predação durófaga (comportamento alimentar de consumidores de organismos com casca dura, como moluscos) é identificável através de modificações, como cicatrizes e irregularidades ao longo das linhas de crescimento dos moluscos. Pachycymbiola brasiliana é um dos gastrópodes mais comuns no sul do Brasil, sendo registrado em depósitos fossilíferos subtropicais do Pleistoceno e Holoceno, do Brasil à Patagônia. Sua distribuição atual se dá ao longo da costa sul- americana entre 23ºS e 41ºS. São predadores ativos, se alimentam de bivalves e outros pequenos invertebrados e frequentemente apresentam associações com anêmonas. Habitam águas rasas de 8 a 70 m de profundidade, aparecendo frequentemente em águas mais rasas, ou mesmo na praia, quando centenas de espécimes vivos e conchas são transportados por tempestades. A Planície Costeira do Rio Grande do Sul (PCRS), é uma unidade geomorfológica que foi moldada por variações do nível do mar durante o Neógeno e o Quaternário. A PCRS apresenta depósitos fossilíferos marinhos submersos, que são frequentemente retrabalhados durante tempestades, promovendo a formação de acumulações de conchas na praia. Foram identificadas estruturas de bioerosão em uma amostra composta por 1125 conchas de moluscos gastrópodes da espécie Pachycymbiola brasiliana. O material foi coletado na Praia do Cassino, que compõe a PCRS, e está depositado na coleção do Laboratório de Geologia e Paleontologia da FURG (LGP-FURG) e Museu de Paleontologia Irajá Damiani Pinto (UFRGS). No total, 91,3% da amostra apresentou traços fósseis de oito icnogêneros: Caulostrepsis, Iramena, Entobia, Penatichnus, Gastrochaenolites, Finichnus, Podichnus e Caedichnus. Seis crescimentos anômalos internos foram identificados: "Blister", "Attached Pearl", "Pits", "Sheets", "Verrucose" e "Needle". O crescimento anômalo interno relacionado à bioerosão de Caulostrepsis indicou parasitismo, e a presença do icnogênero Caedichnus indicou predação. O comensalismo foi identificado através da bioclaustração de cracas. A datação por carbono-14 indicou que as conchas eram de animais que viveram até o Pleistoceno Superior, com perióstracos modernos encontrados em 185 conchas, sugerindo que a amostra estudada compreende uma mistura temporal de conchas do Pleistoceno, subfósseis e modernas. Este estudo aumenta nossa compreensão das interações ecológicas no registro fossilífero, particularmente no Hemisfério Sul, onde os dados de icnologia são escassos.

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Palavras-chave: PaleoecologiaGastropodaPleistocenoBioerosãoPachycymbiola brasilianaPlanície costeiraRio Grande do SulPraia do Cassino (RS)PaleoparasitismoDurofagia